Num fim-de-semana repleto de ação da Premier League, certos momentos destacam-se não pelo que aconteceu em campo, mas pelas palavras ditas à sua volta. A análise pós-jogo é, por vezes, um território tão competitivo quanto o próprio futebol, e as observações de Ian Ladyman lançam luz sobre alguns dos momentos mais reveladores.
Roy Keane é um analista que funciona melhor quando tem tempo e o ambiente adequado para aprofundar os seus pensamentos. No podcast ‘Stick to Football’ de Gary Neville, Keane brilha com a sua perspicácia. No entanto, nos seus comentários para a Sky Sports aos domingos, tende por vezes a adotar um estilo mais confrontador, quase de “chock jock”. Dito isto, no último domingo, Keane acertou em cheio com os seus comentários sucintos sobre o capitão do Liverpool, Virgil van Dijk.
Cada jogador tem direito a um jogo menos bom, e Van Dijk teve certamente um contra o Manchester United. Num determinado momento, questionou-se se o defesa central teria emprestado a sua camisola e chuteiras ao seu irmão gémeo, tal foi a discrepância de performance. Contudo, o que realmente ressoou foram as palavras de Keane sobre a necessidade de Van Dijk “se olhar ao espelho”. Um dos pilares fundamentais de uma verdadeira liderança é a capacidade de assumir a responsabilidade e a culpa. Em Anfield, no domingo, Van Dijk pareceu estar a distribuir culpas como se fossem confete. A sua função no golo inaugural do United foi dupla. Primeiro, saltou de forma desnecessária e colidiu com o seu próprio companheiro de equipa, Alexis Mac Allister, na cabeça. De seguida, falhou redondamente em acompanhar a entrada do marcador do golo, Bryan Mbeumo, na área penal. Foi uma sequência de erros que um jogador da sua estatura normalmente evita.

Para lá dos holofotes dos estúdios de televisão, existe um mundo de conversas privadas e perceções que moldam a liga. Um dos aspetos mais curiosos que Ladyman partilha é a existência de uma alcunha secreta que os árbitros terão dado a um treinador em particular. Esta alcunha, cuja identidade do treinador permanece um segredo bem guardado nos círculos da arbitragem, é um testemunho de como os comportamentos na beira do relvado são observados e catalogados por aqueles que aplicam as leis do jogo. Revela a existência de um diálogo interno e de uma cultura que raramente transparece para o público, mostrando que as ações dos treinadores têm uma ressonância que vai para além dos 90 minutos de jogo.
Finalmente, Ladyman não poupa críticas ao que classifica como “nonsenses” ditos sobre o Arsenal. No turbilhão de opiniões que segue cada rodada, é comum que narrativas simplistas e análises superficiais ganhem destaque, especialmente quando se fala de um clube da dimensão dos Gunners. Muitas vezes, estes comentários carecem de substância e contexto, focando-se em pormenores irrelevantes ou em críticas infundadas que ignoram o panorama mais amplo da performance da equipa. Este “ruído” torna-se, por vezes, mais alto do que a análise séria, criando uma perceção distorcida da realidade dos factos desportivos. Ladyman defende uma abordagem mais ponderada, longe do sensacionalismo fácil que domina certos espaços de discussão.